Wednesday, February 28, 2007

Saturday, February 24, 2007

Friday, February 23, 2007

PÃO DO BRASIL (7)

O Brasil foi a primeira região colonizada no território sul-americano a exportar trigo para a Europa.
No século XVIII, após a chegada de colonos açorianos ao actual Estado do Rio Grande do Sul, houve um notável incremento da produção cerealífera, tendo, por exemplo, nos anos de 1780 e 81, sido colhido mais de 60.000 alqueires de trigo. Nesta altura, havia o incentivo de exportar trigo para Portugal o que, em paralelo, motivou o contrabando deste cereal para Montevideu.
No século XIX, os trigais (e outras culturas) são atingidos pela chamada praga da “ferrugem”, favorecida pelas condições de calor e humidade existentes nas zonas de plantação habitual. Tentou-se corrigir esta praga, procurando outros terrenos em diferentes latitudes e altitudes, já que se conhecia o facto de os fungos necessitarem, para se desenvolver, de calor e humidade. Tais medidas não conseguiram debelar a crise e a consequência natural foi a lenta ruína da produção de trigo que se tornou notória no início do séc. XX.
Faltou, nesta altura, uma política agrária expedita que contornasse este problema e conduzisse à introdução de variedades de trigo resistentes à “ferrugem”, com boa adaptabilidade às condições climáticas e dos terrenos brasileiros.
Por outro lado, houve clamorosas falhas na prevenção da ferrugem, nomeadamente a administração precoce de produtos anti-fúngicos nas plantações. Os agrónomos sabiam que só a precocidade do tratamento era eficaz. Todavia, essa estratégia não foi aplicada. Mais tarde, depois de várias intervenções estatais inconsequentes, só a inestimável intervençaõ do geneticista sueco Iwar Beckman, surgiu uma variedade híbrida "frontana", resistente à ferrugem amarela. A consequência, a médio prazo, foi a retoma da produção de trigo.

Thursday, February 8, 2007

PÃO DO BRASIL (6)

O "pão dos descobridores" seria bem peculiar e adaptado à Idade Média: “tinha a forma de disco e, sendo habitualmente usado como recipiente de comidas (prato), era consumido após as refeições.” (Rosemeire Bertolini Lorimer, tese, intitulada: “O impacto dos primeiros séculos de história da América portuguesa na formação da brasilidade alimentar”).
No Brasil, o consumo de pão, tal como o conhecemos na Europa, só se popularizou depois do século XIX. Até então, o indígena brasileiro continuava a consumir, em grandes quantidades, a farinha de mandioca e o biju, apesar de já conhecer o pão de trigo desde a chegada dos colonizadores portugueses. Vigorava a prevalência da tradição indígena no aporte diário de hidratos de carbono.

Todavia, o trigo deve ter sido uma das primeiras tentativas de cultivo – no quadro de uma agricultura de subsistência - dos colonizadores portugueses. Martim Afonso de Sousa no início da colonização (séc. XVI) terá trazido as primeiras sementes deste cereal, antecipando-se à maior parte dos territórios da América do Sul.
O local escolhido para estas plantações foi a antiga capitania de São Vicente, outorgada a Martim de Sousa por D. João III (territórios do actual Estado de São Paulo). Mais tarde os trigais espalham-se por todo o Brasil e, inclusivé, alcançaram o nordeste brasileiro. O trigo foi plantado em Garanhuns (Pernambuco), Teixeiras (Paraíba), Meruoca (Ceára), chegando até a Ilha de Marajó, no Pará. Mais tarde, desenvolveu-se também em Minas Gerais e Goiás.

No século XVIII, com a chegada de colonos açorianos, o cultivo desse cereal teve um enorme incremento chegando, esta colónia, a exportar grandes quantidades de trigo para Portugal.

AMAZONAS (Belém-Pará)

barcaça de transporte de madeiras (exóticas)

Sunday, February 4, 2007

Tipitis (cestos) para a extração da manipueira


PÃO DO BRASIL (5)


No período colonial, a farinha de mandioca era utilizada na alimentação dos escravos, dos criados das fazendas e dos engenhos de açucar, além de servir também como suprimento de viagens e expedições para os colonos portugueses (farnel de viajantes).
A “casa da farinha” ajudou a fixar o homem à terra, já que sendo a farinha um alimento indispensável à sua sobrevivência, foi um preciso instrumento no combate aos ciclos de fome que periodicamente grassavam nos territórios indígenas.
Como rezam as crónicas do descobrimento do Brasil (Carta de Pero Vaz de Caminha) relativas aos primeiros contactos dos navegadores com os indígenas existiam dispares conceitos alimentares:
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.”
Significativo é, entre os alimentos ofertados aos índios, figurar o pão. Todavia, o pão poderá, também, ter "entrado" no Brasil a reboque da colonização origem judaica (cristãos-novos) portuguesa. Alguns textos mencionam as seguintes práticas e cerimónias judaicas que deveriam ser confessadas ou denunciadas:
Observância do Sábado de acordo com a tradição judaica; matança de aves e animais de acordo com a tradição judaica; não comer carne de certos animais e peixes; observância dos dias de jejum judaicos; celebração dos dias de festa judaicos; recitação de preces judaicas; recitação dos Salmos da Penitência, omitindo o Gloria Patri, et Filio, et Espiritu Sancto; o tratamento, sepultamento dos cadáveres e o luto segundo o costume judaico; colocar ferro, ou pão, ou vinho, em jarros ou cântaros na véspera de S. João e na noite do Natal, para simbolizar a crença de que nessas ocasiões a água se transformava em vinho; a bênção das crianças, de acordo com a tradição judaica; circuncidar os meninos e atribuir-lhes, em segredo, nomes judaicos; raspagem do óleo e do crisma após o batismo da criança.” (trecho da Carta Monitoria para a cidade da Bahia publicada pelo visitador Heitor F. Mendonça
). Como é óbvio, neste texto as referências dizem respeito ao pão ázimo, isto é, sem fermento.

MANDIOCA - prensa


Friday, February 2, 2007

beiju (farinha de mandioca)

Thursday, February 1, 2007

PÃO DO BRASIL (4)



Foto: pirão


A tapioca aproxima-se, funcionalmente, do conceito europeu de pão.

Produzida, igualmente, com o amido extraído da mandioca, também é conhecida como polvilho, goma ou beiju e, quando espalhada sobre uma chapa aquecida, ou numa vulgar sertã – os índios usavam uma panela - coagula e agrega-se (compacta-se). Normalmente, é servida recheada com coco, queijo ou manteiga, podendo ser incorporados outros ingredientes mais exóticos. É um alimento usado na primeira refeição do dia ou, então, mais raramente, no lanche.

Na época dos descobrimentos a tapioca era a base da alimentação dos índios tupis-guaranis e, por consequência, a sua utilização estava difundida ao longo de todo o litoral brasileiro. Com a colonização alguns aspectos desta manipulação totalmente artesanal vieram a modificar-se. Os portugueses introduziram a chamada “Casa de Farinha” e todo o processamento da sua produção alterou-se. Aa mandiocas eram levadas, ficavam submersas em água, depois limpas e finalmente raladas (ralador ou cevadeira), formando uma “massa” húmida que era recolhida num cocho (recipiente escavado de madeira). Do cocho passava para o tipiti (cesto) e sob pressão era retirado o excesso de humidade e despojada de um líquido tóxico (venenoso?) chamado manipueira (contém ácido anídrico). A massa resultante era levada ao forno alimentado a lenha, permanente mexida por uma pá, ficando torrada. A maior parte destes instrumentos eram movidos pela “roda de água”. Estamos, ainda, numa época pré-industrial.
Mesa (Columbano)