Friday, January 19, 2007



Impressões de viagens...


PÃO DO BRASIL - PARTE I

(Mercado "a-ver-o- peso"- Belém)

Por vezes, os períodos de vilegiatura arrastam-nos para longe. Mas, na escapada à rotina, buscando em paragens longínquas, povos, saberes e culturas diferentes, acabamos sempre tropeçar com impressivos traços da centenária diáspora portuguesa que, na realidade, antingiu o auge com os "Descobrimentos". Os brasileiros gostam mais da palavra "achamento". Provavelmente mais consentânea com a epopeia...

Este ano, estando em Belém (Pará) a aspirar o “tropicalíssimo” odor que exala do perene deslizar desse gigante chamado Amazonas e, concomitantemente, consolando a vista na imensidão das águas, encontrei - numa visita turística de rotina ao actual Pólo Joalheiro da Fundação São José Liberto, antigo Convento São José dos Missionários Franciscanos, depois paiol e, sucessivamente, quartel, olaria, hospital, cadeia pública - um intrigante livro sobre o Pão.
Não é propriamente um guia turístico ou um exótico “livrinho” de história (do tipo das insípidas monografias académicas) mas, antes, um curioso e exaustivo levantamento das condições de fabrico e distribuição do Pão, nesta cidade, referente aos anos 1940- 1954.
O livro chama-se: “O Pão Nosso de Cada Dia – Trabalhadores, indústria da panificação e a legislação trabalhista em Belém (1940-1954)”. Foi escrito por Edilza Fontes, investigadora e licenciada em História pela Universidade Federal do Pará.
Provavelmente, foi determinante para a escolha do tema em referência, a autora possuir uma acutilante sensibilidade e um indisfarçável interesse pela área social. Posteriormente, o "mundo do trabalho" continuou a motivá-la, tendo obtido o mestrado (1993) e o doutoramento (2002), em História Social do Trabalho, pela Universidade Estatual de Campinas/Unicamp.

Ao folhearmos o livro facilmente constatamos que estamos perante um meticuloso estudo dos conflitos (relações de trabalho) e das condições de vida comunitárias e sociais que marcavam o labor quotidiano de todo o pessoal que gravitava (nessa época) à volta das padarias e, obviamente, na indústria de panificação. Isto é, padeiros, forneiros, ajudantes e proprietários de padarias. Um facto particular empresta uma importante mais valia a este trabalho - são os riquíssimos depoimentos orais verbalizados por antigos (velhos) trabalhadores dessas ancestrais padarias. Tal facto, transforma este livro numa preciosidade documental.

Não vou reproduzir o livro embora não consiga escapar a citar alguns dos trechos mais impressivos, paradigmáticos e, com certeza, extremamente elucidativos para a construção da “HISTÓRIA DO PÃO” no Brasil.
Todavia, este livro - datado e circunscrito a uma época - transportou-me a outras paragens. À causa das coisas.
(continua)

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